Seres inacabados
O método Paulo Freire não visa apenas tornar
mais rápido e acessível o aprendizado, mas pretende habilitar o aluno a
"ler o mundo", na expressão famosa do educador. "Trata-se de aprender a
ler a realidade (conhecê-la) para em seguida poder reescrever essa
realidade (transformá-la)", dizia Freire. A alfabetização é, para o
educador, um modo de os desfavorecidos romperem o que chamou de "cultura
do silêncio" e transformar a realidade, "como sujeitos da própria
história".
No conjunto do pensamento de Paulo Freire encontra-se
a idéia de que tudo está em permanente transformação e interação. Por
isso, não há futuro a priori, como ele gostava de repetir no fim da
vida, como crítica aos intelectuais de esquerda que consideravam a
emancipação das classes desfavorecidas como uma inevitabilidade
histórica. Esse ponto de vista implica a concepção do ser humano como
"histórico e inacabado" e conseqüentemente sempre pronto a aprender. No
caso particular dos professores, isso se reflete na necessidade de
formação rigorosa e permanente. Freire dizia, numa frase famosa, que "o
mundo não é, o mundo está sendo".
Três etapas rumo à conscientização
Embora
o trabalho de alfabetização de adultos desenvolvido por Paulo Freire
tenha passado para a história como um "método", a palavra não é a mais
adequada para definir o trabalho do educador, cuja obra se caracteriza
mais por uma reflexão sobre o significado da educação. "Toda a obra de
Paulo Freire é uma concepção de educação embutida numa concepção de
mundo", diz José Eustáquio Romão. Mesmo assim, distinguem-se na teoria
do educador pernambucano três momentos claros de aprendizagem. O
primeiro é aquele em que o educador se inteira daquilo que o aluno
conhece, não apenas para poder avançar no ensino de conteúdos mas
principalmente para trazer a cultura do educando para dentro da sala de
aula. O segundo momento é o de exploração das questões relativas aos
temas em discussão - o que permite que o aluno construa o caminho do
senso comum para uma visão crítica da realidade. Finalmente, volta-se do
abstrato para o concreto, na chamada etapa de problematização: o
conteúdo em questão apresenta-se "dissecado", o que deve sugerir
ações
para superar impasses. Para Paulo Freire, esse procedimento serve ao
objetivo final do ensino, que é a conscientização do aluno.
Para pensar
Um
conceito a que Paulo Freire deu a máxima importância, e que nem sempre é
abordado pelos teóricos, é o de coerência. Para ele, não é possível
adotar diretrizes pedagógicas de modo conseqüente sem que elas orientem a
prática, até em seus aspectos mais corriqueiros. "As qualidades e
virtudes são construídas por nós no esforço que nos impomos para
diminuir a distância entre o que dizemos e fazemos", escreveu o
educador. "Como, na verdade, posso eu continuar falando no respeito à
dignidade do educando se o ironizo, se o discrimino, se o inibo com
minha arrogância?" Você, professor, tem a preocupação de agir na escola
de acordo com os princípios em que acredita? E costuma analisar as
próprias atitudes sob esse ponto de vista?
venha conferir...
ResponderExcluirSó relembrando que Paulo Freire criou sua metodologia para adultos. O que se difere da alfabetização de crianças na idade certa.
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